"Preto" Michel, arte-educador, grafiteiro e escritor |
O direito ao lazer está na Constituição, inserido no capítulo dos Direitos Sociais, e este, por sua vez, está inserido no Título dos Direitos Fundamentais do cidadão brasileiro. O lazer, portanto, é um direito fundamental e que nunca esteve em nenhuma Constituição Brasileira anterior, desde nossa primeira Constituição em 1824, quer como liberdade, quer como direito social.
Sendo o lazer um direito
constitucional garantido, é de se esperar que o poder público, seja na figura
da Prefeitura Municipal ou mesmo do governo do Estado, providenciem espaços
públicos para que a população possa, então, usufruir desse direito plenamente.
Supondo
que o cidadão disponha de tempo para usufruir deste que é um direito seu,
garantido pela lei máxima que rege nosso país, também se fazem necessários
espaços para que este direito seja posto em prática. E é sobre estes espaços,
ou mesmo sobre a carência destes espaços, que vamos falar neste post.
Belém
é uma das mais antigas e importantes metrópoles de todo o Brasil. E como a
maioria dessas metrópoles nossa capital teve um processo de crescimento
desorganizado. Ao longo dos anos, muitas áreas ditas de “periferia” surgiram e
em meio a um processo de urbanização descontrolado, seria de se esperar que os
bairros mais afastados do centro da cidade ficassem, também, à margem da
administração do Poder Público.
Segundo
dados do Instituto do homem e do meio ambiente da Amazônia (IMAZON), no início
dos anos 2000, a região metropolitana de Belém possuía 47 bairros com praças e
24 deles sem. As condições desses espaços eram consideradas ruins ou péssimas,
mais um reflexo do crescimento urbano desordenado que contribui diretamente
para a diminuição da qualidade de vida da população.
Na
maior parte das vezes, a parcela da população que primeiramente sente os
impactos da ausência desses espaços de lazer são os jovens. O arte-educador e
escritor “Preto” Michel, mantém projetos que buscam ser uma alternativa aos
jovens dos bairros periféricos de Belém, como o Guamá e a Terra Firme. Em
entrevista ao Visão Periférica, ele contou um pouco de sua experiência e
explicou como a arte pode ser uma ferramenta poderosa no combate à
marginalização que os jovens que vivem na periferia.
Para saber mais sobre uma de suas obras, clique no link:
Para saber mais sobre uma de suas obras, clique no link:
“Eu
sempre militei a favor da causa da periferia. No começo juntamente com o
movimento de rap e hip hop, com os pichadores, que mais tarde viriam a se
tornar grafiteiros e hoje em dia através da ‘literatura marginal’. A arte
sempre foi uma forma de resistência para o moleque da ‘quebrada’. Lá na década
de 90, quando eu era garoto, ainda tínhamos um campo de futebol ou uma quadra
pra jogar bola, peteca e essas coisas.
Nunca
tivemos também muita alternativa quando nós éramos mais novos. Mas com o tempo
o moleque da quebrada foi adaptando os espaços que ele tinha e foi usando pra
se divertir. Hoje em dia, a molecada usa os grupos de whatsapp pra marcar de se
reunir e ás vezes se juntar só pra bater um papo, ou mesmo continuam ouvindo
rap, ou brega e essas coisas.
Nunca
foi, e infelizmente, acho que nunca vai ser do interesse do Poder público,
construir um teatro na “quebrada” ou mesmo reformar as quadras poliesportivas
que já existiram um dia. É só notar o quanto é pequeno também o número de
projetos sociais e artísticos que existem na periferia. O que o governo faz é
dar uma ‘maqueada’ nos poucos espaços que existem e construir essas academias
ao ar livre.
Essa
falta de espaços e alternativas acaba deixando esses jovens mais próximos e a
mercê do crime organizado. Pensa comigo, o moleque já não tem autoestima, daí
aparece alguém que oferece dinheiro e poder pra ele. Ás vezes a maioria desses
jovens não tem nem o que comer, aí já viu. É um passo para uma vida de crime.
Se o governo se preocupasse um pouco mais com a educação dessa molecada desde
cedo, mostrasse as formas de arte, como a literatura, a música e outra formas
de arte, pode ter certeza que isso diminuiria a violência. Esse jovem que não
tem muitas alternativas, acaba pendendo para o lado do crime.
A
mensagem que eu gostaria de deixar pra essa galera da periferia é que eles tem
opção. Através das artes eles podem enxergar que a realidade deles é melhor do
que parece. Existem muitos artistas, nas mais diversas áreas, seja o rap, o
samba, o carimbó ou o brega, que vieram da periferia. O que eles têm que fazer
é pegar essa realidade em que eles vivem e ressignificar pra construir algo
melhor”.
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