30/03/2017

Transformar sua realidade é resistir!

"Preto" Michel, arte-educador, grafiteiro e escritor

O direito ao lazer está na Constituição, inserido no capítulo dos Direitos Sociais, e este, por sua vez, está inserido no
Título dos Direitos Fundamentais do cidadão brasileiro. O lazer, portanto, é um direito fundamental e que nunca esteve em nenhuma Constituição Brasileira anterior, desde nossa primeira Constituição em 1824, quer como liberdade, quer como direito social.


Sendo o lazer um direito constitucional garantido, é de se esperar que o poder público, seja na figura da Prefeitura Municipal ou mesmo do governo do Estado, providenciem espaços públicos para que a população possa, então, usufruir desse direito plenamente.
Supondo que o cidadão disponha de tempo para usufruir deste que é um direito seu, garantido pela lei máxima que rege nosso país, também se fazem necessários espaços para que este direito seja posto em prática. E é sobre estes espaços, ou mesmo sobre a carência destes espaços, que vamos falar neste post.

Belém é uma das mais antigas e importantes metrópoles de todo o Brasil. E como a maioria dessas metrópoles nossa capital teve um processo de crescimento desorganizado. Ao longo dos anos, muitas áreas ditas de “periferia” surgiram e em meio a um processo de urbanização descontrolado, seria de se esperar que os bairros mais afastados do centro da cidade ficassem, também, à margem da administração do Poder Público.

Segundo dados do Instituto do homem e do meio ambiente da Amazônia (IMAZON), no início dos anos 2000, a região metropolitana de Belém possuía 47 bairros com praças e 24 deles sem. As condições desses espaços eram consideradas ruins ou péssimas, mais um reflexo do crescimento urbano desordenado que contribui diretamente para a diminuição da qualidade de vida da população.

Na maior parte das vezes, a parcela da população que primeiramente sente os impactos da ausência desses espaços de lazer são os jovens. O arte-educador e escritor “Preto” Michel, mantém projetos que buscam ser uma alternativa aos jovens dos bairros periféricos de Belém, como o Guamá e a Terra Firme. Em entrevista ao Visão Periférica, ele contou um pouco de sua experiência e explicou como a arte pode ser uma ferramenta poderosa no combate à marginalização que os jovens que vivem na periferia.

Para saber mais sobre uma de suas obras, clique no link:

“Eu sempre militei a favor da causa da periferia. No começo juntamente com o movimento de rap e hip hop, com os pichadores, que mais tarde viriam a se tornar grafiteiros e hoje em dia através da ‘literatura marginal’. A arte sempre foi uma forma de resistência para o moleque da ‘quebrada’. Lá na década de 90, quando eu era garoto, ainda tínhamos um campo de futebol ou uma quadra pra jogar bola, peteca e essas coisas.

Nunca tivemos também muita alternativa quando nós éramos mais novos. Mas com o tempo o moleque da quebrada foi adaptando os espaços que ele tinha e foi usando pra se divertir. Hoje em dia, a molecada usa os grupos de whatsapp pra marcar de se reunir e ás vezes se juntar só pra bater um papo, ou mesmo continuam ouvindo rap, ou brega e essas coisas.

Nunca foi, e infelizmente, acho que nunca vai ser do interesse do Poder público, construir um teatro na “quebrada” ou mesmo reformar as quadras poliesportivas que já existiram um dia. É só notar o quanto é pequeno também o número de projetos sociais e artísticos que existem na periferia. O que o governo faz é dar uma ‘maqueada’ nos poucos espaços que existem e construir essas academias ao ar livre.

Essa falta de espaços e alternativas acaba deixando esses jovens mais próximos e a mercê do crime organizado. Pensa comigo, o moleque já não tem autoestima, daí aparece alguém que oferece dinheiro e poder pra ele. Ás vezes a maioria desses jovens não tem nem o que comer, aí já viu. É um passo para uma vida de crime. Se o governo se preocupasse um pouco mais com a educação dessa molecada desde cedo, mostrasse as formas de arte, como a literatura, a música e outra formas de arte, pode ter certeza que isso diminuiria a violência. Esse jovem que não tem muitas alternativas, acaba pendendo para o lado do crime.

A mensagem que eu gostaria de deixar pra essa galera da periferia é que eles tem opção. Através das artes eles podem enxergar que a realidade deles é melhor do que parece. Existem muitos artistas, nas mais diversas áreas, seja o rap, o samba, o carimbó ou o brega, que vieram da periferia. O que eles têm que fazer é pegar essa realidade em que eles vivem e ressignificar pra construir algo melhor”.   







  






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