28/03/2017

Perto das Drogas por Falta de Opção

Em Belém, a maioria dos espaços públicos voltados aos moradores das áreas periféricas se encontra em locais de difícil acesso físico ou simbólico aos setores populares. A presença destes espaços contribuiria de diferentes formas para a melhoria do ambiente urbano, através do acontecimento de práticas sociais, como o esporte, e momentos de lazer. O nosso entrevistado Almir Júnior, que tem vinte anos e mora no Parque Verde desde que nasceu, afirma ao blog que a ausência destes espaços voltados aos moradores de seu bairro não é recente: “Nunca teve nada lá assim... Nenhuma praça, nenhuma quadra, nenhuma coisa do gênero”. Almir conta ainda que desde sua infância precisava improvisar na escolha dos lugares onde brincaria com seus amigos: “A galera sempre brincava lá nos quintais abandonados, também tinha uma vila lá na rua que o terreno do cara era bem grande, a gente 'jogava bola' lá no quintal dele, brincava lá de 'pira-se-esconde', 'polícia e ladrão'...”.
Quintal abandonado onde Almir costumava brincar na infância
Muitas vezes, por falta de espaços apropriados, crianças que moram em áreas periféricas acabam tendo contato direto com o mundo das drogas. O entrevistado relata que chegou a ser proibido de brincar na rua por sua mãe devido a constante presença de consumidores de drogas nos locais onde ele costumava brincar: “Sempre teve muita presença do tráfico lá na rua... Era meio presente, assim, na nossa infância, lá na nossa brincadeira, no meio da gente... Ai a mamãe ficava 'na onda' de deixar eu sair pra brincar, não queria deixar eu sair de casa, pra não deixar eu me misturar com 'os caras', mas lá era o único lugar que eu tinha, eu 'pagava a fuga' da mamãe”.


Casa abandonada na rua de Almir
Espaço utilizado por usuários de drogas
Resíduos deixados por usuários de drogas

Almir acredita que a ausência de espaços públicos voltados aos moradores das áreas periféricas tem ligação direta com os altos índices de criminalidade dessas áreas e que a construção de uma quadra para a prática de esportes já seria um grande passo para evitar o contato das crianças do seu bairro com o mundo do crime: “Chega de tarde, tu olha assim na rua os molequinhos todos com bola na mão, na frente das casas, afins de jogar em qualquer lugar... Um pedacinho de calçada que tenha pros caras jogarem, eles jogam. Agora 'calcule' se tivesse uma quadra...”.

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